Até Ubatuba…

De Caraguá à Ubatuba são 60 quilômetros… algumas subidas… fomos pela praia o máximo que deu, depois fomos para a estrada, mas logo de cara o pneu furou…

Um rapaz parou com seu carro e nos ofereceu ajuda… mas não foi preciso, sempre andamos com o kit gambiarra. A viagem de bicicleta sempre atrai solidariedade, as pessoas sempre conversam, cumprimentam, perguntam algo, acho que sentem-se próximas, sei lá.

A estrada era boa, com acostamento e alguns  mirantes… em um deles conhecemos Tereza, uma ciclista que estava levando algumas pessoas de carro para conhecer uma cachoeira, ela nos ofereceu hospedagem em Ubatuba, foi super atenciosa, chamou para jantar e tudo, pediu para ligarmos mais tarde.

Acho que o litoral norte tem algumas praias que estão, tranquilamente, entre as mais bonitas do país. E uma coisa boa em Ubatuba é que, de certa forma, conseguiu se manter preservada, sem aquela verticalização de Caraguá.

Estávamos passando por uma ponte sobre um rio, com uma praia linda ao lado…

Resolvemos almoçar, levamos as bikes até a praia por uma pequena trilha, estendemos a canga, que pena que não estávamos preparados para um mergulho, só deu pra molhar os pés… comemos o lanche e prosseguímos viagem.

Chegamos ao centro e procuramos por algum hotel ou pousada. O bom de estar fora de temporada é que estão todos com vagas e sujeitos a pechincha. Ficamos em um belo hotel no centro por um preço camarada.

O bom de ficar no centro é estar próximo a tudo, mercado, banco. De modo a termos acesso a qualquer coisa que precisemos. Dormimos um pouco e fomos comprar alguma coisa para comer.

Mais tarde tentamos ligar para a ciclista, mas ninguém atendeu, saímos até uma lan house para procurar informações sobre o restante da viagem, ao que sabíamos, o pior trecho era de Ubatuba a Paraty. Um rapaz do hotel disse que fazia esse percurso de bate e volta, outros diziam que havia uma serra terrível e que no caminho não tinha nada para ficar, só camping.

Pesquisamos e encontramos algumas opções o camping da Zita e um lugar chiquetozo que devia custar o olho da cara. Só que o telefone do lugar só atendia até as seis da tarde e não conseguimos mais ligar, queríamos sair cedo no dia seguinte, mas ficamos com medo da serra, achamos melhor dormir mais uma noite ali e no dia seguinte acertar a questão da hospedagem.

Fomos então procurar um lugar para jantar, ficamos em um restaurante muito simpático, que serviu um monte de comida e ao final fomos obrigados a levar as sobras para o hotel.

Pra aquecer as pernas

Escolhemos fazer esse trecho do litoral pela infraestrutura local. Sabíamos que, por nosso despreparo físico, algo que nos exigisse mais (como a Estrada Real, que pretendíamos percorrer) poderia deixar o passeio e nossas férias mais cansativa do que prazerosa. Temos aprendido a controlar a ansiedade e não querer bater nenhum récorde, apenas viajar de bicicleta, reconhecendo nossos limites.

Para o primeiro dia de pedal, não passaríamos dos 30 km… uma pequena serrinha pelo caminho e um trecho sem acostamento que já havíamos observado do ônibus, seriam nosso maior desafio.

Sem passagem...

É impressionante o descaso com a vida. São apenas 100 ou 200 metros onde pedestres e ciclistas não tem respeitado seu direito de ir e vir com segurança. Mas é preciso vontade política pra essas coisas acontecerem, era só botar o gradil (onde estou sentada) pra dentro da pista e fazer uma passagem decente para as pessoas, como manda a lei. Pra evitar maiores sustos seguimos empurrando as bicicletas, mesmo com poucos motorizados circulando.
Depois o acostamento volta até Caraguá.
 

Bem vinda Caraguá!

Já em Caraguatatuba seguimos pela orla que tem uma bela e longa ciclovia que vai até o centro. Nos surpreendemos com essa cidade, muito bonita, mas que infelizmente vem passando por um processo de verticalização e deve virar um formigueiro no verão.
 
O centro é daqueles bonitinhos com Igreja e coreto, como manda a tradição portuguesa católica.
 

Marcas da colonização por todo o litoral

 
Desta vez não levamos nossa barraca e nos demos o direito de ficar em hotéis mais carinhos…
Como chegamos bem cedo ao centro, escolhemos um hotel bem localizado e fomos às compras para a refeição do dia. É que pra economizar levamos nosso distinto fogareiro e toda tralha de cozinha… é claro que com isso infringimos a lei… mas é por uma causa que consideramos justa.
 

Cozinhando "muquiado" né!

Eu, "ajudando"... rsrs

Pós almoço, passeio na praia pra relaxar as pernas. O sol saiu bem timidozinho, só pra nos dar um oi.

Bicicletas sempre presentes na vida caiçara

Um passinho por vez....

São Sebastião

Começamos o pedal em São Sebastião, na praça central uma igreja, o que nos fez lembrar da colonização, da parceria entre os colonizadores e a igreja católica, quando da invasão européia nas terras dos povos da floresta. Nessas viagens sempre vemos as igrejas, nunca os templos budistas, os terreiros de candomblé ou as sedes da PL. Muito ouro destas terras foi para o Vaticano, ornamentar as ostentações católicas.

Chegamos na cidade de ônibus, desde a rodoviária do Tietê, inaugurando minha mala-bike, fomos bem atendidos pela empresa de ônibus, um motorista simpático, sem qualquer tipo de “cara-feia” pelas bikes. De início pensamos em passar a primeira noite na Ilha Bela, mas preferimos passar a noite por ali mesmo, no centro histórico de São Sebastião, afinal queríamos pedalar um pouco e vir em outro final de semana conhecer a Ilha.

Procuramos por hotéis e pousadas, encontramos uma pousada ao lado desta pequena igreja, um preço dentro das nossas expectativas, o quarto no térreo, podendo colocar a bicicleta, o que facilita, por não precisar tirar os alforges do bagageiro. Parecia um local tranquilo, mas no quarto percebemos que havia o som de uma festa ao fundo. Fomos nos informar e soubemos que o Almir Sater havia cantado lá na noite anterior, ou no final de semana passado, algo assim. Lamentamos que não fosse ele, quem iria cantar era um grupo que ninguém sabia o nome.

Na pousada conversamos com um rapaz que trabalhava na recepção que todos os dias ia de bicicleta de Caraguá a São Sebastião, ele nos deu algumas dicas do caminho e da serra que iríamos pegar no dia seguinte. Era um rapaz do Rio de Janeiro que veio para lá de bike e nunca mais voltou, morava em Caraguá e trabalhava ali na pousada, geralmente ia pra casa já de noite.

Fomos para o centro velho, comemos um lanche e fomos na festa, aliás eu comi meu lanche ali na festa mesmo. Uma festa junina para compensar o frio do inverno. Fomos andar, pois ainda era cedo, encontramos a população local na missa, entramos e o padre entregava a comunhão, Ana Célia recebeu a hóstia e ajoelhou-se emocionada, também me emocionei vendo as pessoas brilharem, a banda era boa e a música também.

Por sorte a banda que ia se apresentar não foi, ouvimos a orquestra da cidade tocando músicas populares e logo fomos dormir.